Nº 2566 - Novembro de 2015
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Dez décadas de Força Aérea

Dez décadas de Força Aérea

Comissão Histórico-Cultural da Força Aérea

 

Completado um século sobre a decisão histórica de criar a Aviação Militar em Portugal, a Força Aérea, como herdeira das tradições e da cultura aeronáutica, vem evocando os momentos mais importantes daquela caminhada. Para além de reuniões e eventos culturais, nada mais importante do que criar uma obra rica em imagens, mensagens e depoimentos. E essa obra é este magnífico livro ilustrado com centenas de impressionantes fotografias, recolhidas nos arquivos militares e civis e ainda outras cedidas por militares, que foram testemunhas da evolução institucional, nas últimas décadas.

Evolução alicerçada no empenhamento dos aviadores e na atribuição de meios aéreos e outros recursos, ao longo das últimas décadas. Mas também no trabalho, dedicação, sacrifício e abnegação de todos aqueles que, de uma forma anónima, serviram e servem esta instituição, que tem como fim último a operação de aeronaves militares.

As inúmeras imagens de aviadores, aeronaves e instalações evocam o desenvolvimento da componente aérea nas instituições Marinha, Exército e Força Aérea, ao longo dos últimos cem anos. Contudo, as circunstâncias históricas de cada momento e os contextos políticos, militares e financeiros moldaram a evolução institucional nos domínios do reequipamento, da modernização e evolução tecnológica.

Os aeronautas pioneiros, visionários e aventureiros dos anos vinte, consolidaram a Aviação Militar e realizaram as viagens aéreas que ligaram os territórios da lusofonia, atravessando mares e continentes, numa postura de irreverência, espírito de aventura e inovação, explorando as potencialidades das suas aeronaves até aos limites.

Os anos trinta, trouxeram o crescimento e afirmação da aviação militar em termos de meios e de reformas institucionais, que a autonomizaram cada vez mais no seio da Armada e do Exército. Os programas de instrução, formação e treino de pessoal, no território nacional e no estrangeiro, fizeram face ao salto tecnológico imposto pela aquisição de novas aeronaves e equipamentos e pela construção de novas infraestruturas, ao longo desta década.

Nos anos quarenta, houve que enfrentar os ventos da guerra mundial, conflito em que o poder aéreo assumiu um papel preponderante. Em Portugal urgia defender a neutralidade e assegurar a soberania, tendo sido os meios aéreos posicionados no continente e ilhas. A nossa aeronáutica militar foi-se modernizando, nas vertentes naval e terrestre, aproveitando as compensações atribuídas pelos Aliados, como contrapartida à nossa postura de cooperação. E, em 1949, enquanto membro fundador da OTAN, Portugal beneficiou de uma nova vaga de profundas transformações, no domínio da aeronáutica militar.

Os anos cinquenta, foram os da afirmação e desenvolvimento da aviação militar portuguesa, com a criação da Força Aérea, absorvendo os meios, infraestruturas aeronáuticas e muito do pessoal da Aeronáutica do Exército e da Aviação Naval. Transformação profunda, também ao nível organizacional e da valorização técnica das diferentes especialidades, o que permitiu a operação de aviões equipados com motores a reação, a evolução dos novos sistemas de comunicações, a instalação dos radares de defesa aérea, o patrulhamento marítimo, a capacidade anti-submarina, a criação dos Transportes Aéreos Militares, a constituição de unidades paraquedistas e o desenvolvimento de planos de contingência visando o Ultramar.

Depois, nos anos sessenta, foi a projeção do poder aéreo para as plagas africanas, a reorganização e o ajustamento às diferentes ameaças e às características de cada território, a edificação e equipamento de aeródromos de apoio à rota imperial, a construção de muitas pistas e instalações nas savanas e florestas, as operações de apoio aéreo, a evacuação de feridos e o transporte operacional e logístico. E a guerra, as inúmeras vidas perdidas em combate, os sacrifícios incontáveis dos militares destacados e dos seus familiares, as limitações à aquisição de material militar impostas pela ONU, a improvisação, o empenhamento de meios humanos, materiais e financeiros num conflito que parecia não ter fim.

Nos primórdios dos anos setenta, a Força Aérea continuou empenhada no Ultramar. Depois foi o fim do conflito, a retração do dispositivo ultramarino, o empenhamento numa ponte aérea de evacuação de civis e militares de grande dimensão, o abate das aeronaves desnecessárias e a chegada de alguns meios aéreos ainda adquiridos na lógica das operações em África.

Nos anos oitenta reorganiza-se a Força Aérea, reforça-se a dimensão europeia e as operações no Atlântico Norte, centralizam-se os serviços em Alfragide, expandem-se as aplicações informáticas, otimizam-se os meios humanos, materiais e financeiros, investe-se na frequência de cursos em Portugal e no estrangeiro, numa impressionante vaga de modernização. A integração plena nas estruturas e nos comandos da OTAN, a prioridade atribuída ao Sistema de Defesa Aérea, a aquisição de dezenas de novas aeronaves, a modernização de outras, permitiram a realização de novas missões como a guerra electrónica, a pesquisa de recursos naturais, a fotografia aérea, a execução de operações ofensivas em ambiente marítimo, etc..

As mudanças dramáticas dos anos noventa, com o fim do Pacto de Varsóvia, acarretaram a contração do dispositivo, o encerramento de bases aéreas, a redução de pessoal e de unidades aéreas, a passagem dos paraquedistas para o Exército e a alteração do estatuto das OGMA. A adaptação aos ventos da história levaram a Força Aérea a empenhar-se na defesa aérea e nas missões internacionais ao serviço da OTAN e da ONU, à cooperação com os PALOP e à participação em operações e exercícios combinados. As reduções orçamentais obrigaram a valorizar a qualidade dos meios humanos e materiais, em detrimento da quantidade e a aeronáutica militar passou a incluir helicópteros atribuídos à Armada, como componente orgânica de alguns dos seus navios.

No século XXI, assiste-se a uma outra transformação, com a chegada de novas aeronaves e com a modernização das existentes, a aquisição de novos sensores, a modernização dos sistemas de comunicações, de comando e controlo e de infraestruturas. Na capacidade de busca e salvamento, com a chegada de novos helicópteros tornou-se possível atuar em todo o espaço interterritorial e uma nova frota melhorou substancialmente a capacidade de Transporte Aéreo Tático.

Para o futuro, os esforços de modernização e de transformação têm de continuar a ser uma prioridade, para responder às particularidades da nossa posição geográfica e às ameaças e riscos que lhe estão associadas. O recurso a meios aéreos não tripulados, as operações no espaço, obrigarão à obtenção de novas tecnologias e à formação e retenção de pessoal motivado, disponível e disposto a servir a Pátria. Estes são alguns dos desafios da Aviação Militar do futuro e que se encontram espelhados nesta obra, dedicada a todos aqueles que a servem e serviram no passado.

 

Trata-se de um trabalho notável, que só com amor e paixão poderia ser realizado, fruto de uma investigação aturada feita em arquivos e bibliotecas mas, acima de tudo, resultado de um trabalho coletivo, destacando-se o labor de conceção, texto, seleção de imagens e coordenação do tenente-general Mimoso e Carvalho.

As Dez Décadas de Força Aérea estão apresentadas num volume de 191 páginas, com capa e ilustrações de superior qualidade, ricamente documentada com 334 fotografias, mapas e estampas. Constitui um valioso contributo para a História Militar em Portugal e, em particular, para a História da Aviação.

Revista Militar agradece a oferta deste livro e felicita a Força Aérea e a sua Comissão Histórico-Cultural, por mais esta iniciativa.

 

Major-General Manuel de Campos Almeida

Vogal da Direção da Revista Militar

Major-general
Manuel António Lourenço de Campos Almeida
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