Nº 2554 - Novembro de 2014
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Evocação do General Gabriel Augusto do Espirito Santo

Evocação do General Gabriel Augusto do Espirito Santo*

Dedicar um número da Revista Militar ao Senhor General Gabriel do Espirito Santo, revista em que ele colaborou ao longo de tantos anos e de que foi Presidente da Direção durante mais de uma década é, certamente, muito mais do que uma demonstração de amizade e sã camaradagem, para com um camarada que infelizmente nos deixou. É um acto de plena justiça e reconhecimento, que nos dá também a possibilidade de, mais de uma vez, sentirmos a sua presença.

Entre muitas outras coisas, não podemos deixar de lembrar a sua dedicação à Instituição Militar, durante o serviço activo e mesmo depois dele; a sua luta contra a ignorância, alheamento e incúria de parte significativa da nossa classe politica em relação à ”coisa” militar; o seu interesse pela dignificação da condição militar, elemento distintivo, por excelência, de quem jurou defender o nosso País; a sua actividade profícua no aprofundamento do saber militar; a sua permanente preocupação com a segurança do nosso País; o prestígio que adquiriu para Portugal nos altos cargos que desempenhou na OTAN e no comando das nossas Forças Armadas.

Não podendo nem querendo ficar fora desta iniciativa da Revista, de reconhecimento e saudade, mas por ser para mim penoso repetir palavras e sentimentos sobre o General e amigo Gabriel do Espirito Santo que, a pedido do Senhor General João Carlos Geraldes, já expressei, junto a evocação que fiz na Secção de Ciências Militares da Sociedade de Geografia de Lisboa, no dia 23 de Outubro de 2014.

Faço-o sem prazer algum, mas com muita honra. Sem prazer, por razões óbvias; com muita honra, porque evocá-lo é trazê-lo ao nosso convívio, lembrar a sua palavra respeitada, sentir o espírito de servir que nos irmana, relembrar a amizade com que nos distinguia, desfiar recordações, apresentar o nosso respeito, a nossa admiração, a nossa amizade.

Mas não gostaria de evocá-lo lembrando a sua folha de serviço (isso, alguém o fará), mas recordando, de forma muito breve, alguns dos nossos encontros. Outros lembrar-se-ão dos seus, e assim, por esta forma, todos o evocaremos.

Eu não conhecia o Major Espírito Santo, antes de, no início da década de 1970, ele ter sido meu professor no IAEM. Mas logo me impressionou o seu saber, a sua aptidão didática e a sua proximidade. Ele sabia aliar o conhecimento e a cátedra com a camaradagem.

Já na década de 1980 fui chefe de uma secção da Repartição de Operações do EME, de que ele foi um chefe dinâmico e muito respeitado. E mais uma vez pude admirar o seu amor ao Exército, aliado à frontalidade e inteligência que eram seu timbre.

Anos mais tarde, quase no virar do século, substituí-o no Comando do Exército e vi-o, quase diariamente, nas difíceis funções de CEMGFA, procurar com equilíbrio, desassombro e sabedoria, pugnar, junto do poder politico, pela resolução dos problemas das nossas Forças Armadas.

Depois de ele passar à reserva pedi-lhe para assumir a direcção da Revista Militar, cargo que desempenhou durante 10 anos, e onde mais uma vez demonstrou a sua capacidade de iniciativa, de estudo aprofundado e análise, e de formar uma equipa.

Já na Secção de Ciências Militares da Sociedade de Geografia de Lisboa “manobrou” comigo a eleição do actual Presidente da Secção, estando plenamente provado o acerto dessa decisão.

Dos muitos encontros que tive com o nosso General Espirito Santo, dominados pela absorvente vida militar, lembro, com dois apontamentos, a saudade que ele nos deixou.

Primeiro, os livros, os escritos, as palavras que escutámos atentamente, onde se sente em permanência o sentido de servir o seu País e as FA. É legado que nos deixa, que o ilustram, nos honram e nos ensinam. Segundo, estou a ouvi-lo chamar-me “António”, e neste chamamento havia algo que nunca esquecerei – a sua camaradagem e a sua amizade.

Enfim, se é com mágoa que vimos partir um camarada ilustre e um amigo, há em nós uma enorme satisfação de termos tido o privilégio de o conhecer e de com ele termos convivido.


* General António Eduardo Queiroz Martins Barrento, Antigo Presidente da Assembleia Geral da Revista Militar.

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2015-03-23
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by CMG Armando Dias Correia