Nº 2483 - Dezembro de 2008
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Dois Relatos de Guerra - GUINÉ PORTUGUESA
Major-general PilAv
José Duarte krus Abecasis
1966 - CACHIL, CACINE, CAMECONDE
1969-1973 - CACINE, CAMECONDE,
GUILEJE, GUIDAGE
 
 
I. Duas “Praxis” de Comando
 
“...you can fool all of the people some of the time, and some of the people all the time, but you cannot fool all of the people all of the time.”
 Autor Americano desconhecido, 1967
(... você pode enganar toda a gente algum tempo, e a alguns todo o tempo, mas você não pode enganar toda a gente todo o tempo.)
 
Não correram de feição para as Forças Armadas Portuguesas os tempos decorridos entre o final do ano de 1966 e 1973.
 
As causas determinantes da evolução negativa poderão ser apontadas, com preponderância, para factores tomados e aceites, genericamente, como insu-peráveis razões da desarticulação e capitulação de um dispositivo militar, aliás do antecedente reduzido à defensiva estática de quadrícula:
1º - Idiossincrasias indissociáveis da personalidade de Comandantes-Chefes, no exercício de funções, autocracia de conceitos pessoais ditados por narcisismo autonomista, tudo levando ao desmantelamento precipitado de uma orgânica de campanha e redes de apoio operacional, com provas testadas de eficácia; atentados à disciplina e hierarquia tradicionais da cadeia de Comando.
2º - Reforço do potencial bélico e da táctica de combate do Inimigo. Invocado como sua resposta, conduzindo, imparavelmente, ao fracasso do nosso “conceito de manobra”, expresso nas “Cartas de Comando”, de posse dos Comandantes-Chefes.
 
A análise da actividade operacional do Inimigo e das nossas tropas, desde o meado dos anos 60, evidencia que a panóplia dos armamentos contemplou, de parte a parte, um aumento progressivo de potencial bélico, nomeadamente em afluxo de remuniciamento de paióis através de todo o território, bem como em sistemas de armas. (Recorde-se a definição estabelecida pelo “Industrial College of the Armed Forces”. “A weapons system, by official definition, consists of the air vehicle, together with all airborne and ground based equipment, plus the skills and supporting facilities required to make it a Unit of striking power”.
 
Isto é: “Um sistema de armas, por definição, consiste no seu vector aéreo, juntamente com todo o equipamento, baseado no ar e no chão, para além da competência de todos os operadores e das facilidades que o tornam numa Unidade de eficaz capacidade ofensiva.”)
 
Ao substancial reforço do nosso “corpo de batalha” nos anos 1966-67, com a atribuição da Esquadra de Intervenção de FIAT G-91 R4, com a dotação acrescida de helicópteros AL III (com heli-canhão de 20 mm), com a transformação dos aviões C-47 DAKOTA, adaptando-os a bombardeiros nocturnos (mão de obra requisitada e levada a efeito sob a supervisão dos engenheiros das Oficinas Gerais de Material Aeronáutico - OGMA), respondeu o In. com toda a potencialidade política-diplomática na ONU e na URSS + satélites, conseguindo obter uma dotação significativa de mísseis “STRELLA” sem descurar a qualificação operacional dos seus serventes tácticos.
Consequências desta evolução:
a) Da parte das nossas Forças Armadas:
  (1)   Psicológicas
Sempre actuais as palavras do Curso “The Economics of National Security”: “War provides an opportunity for the worst in man to find expression, often without attracting unfavourable comment in the noise and confusion that abounds. Psychologically man is so constituted that war gives free play to a large bundle of his impulses and emotions” Isto é: “A Guerra proporciona uma oportunidade para se revelar no homem o pior, frequentemente sem originar comentário desfavorável no barulho e confusão que o cercam. Psicologicamente o homem é de tal forma constituido que a guerra dá largas a um molho de impulsos e emoções.”
        (a) Na Força Aérea - “ZONAS DE LIVRE INTERVENÇÃO DA FORÇA AÉREA”  ZLIFA (“ADIZ”)
Persuasão e certa euforia de livre arbítrio em flagelações indiscriminadas e anárquicas nestas “zonas de intervenção” por parte de alguns pilotos de FIAT G-91... afundamento de canoas e metralhamento “ângulos grandes” de objectivos suspeitos, etc.
     (b) Nas Forças Terrestres
Persuasão de apoio aéreo espontâneo, incluindo transporte para objectivos inopinados e posterior recolha a quartéis, sem risco de emboscadas do In. nos percursos pela mata. O reforço da dotação dos hélis seria garantia de surpresa e eficácia no “golpe de mão”.
 
  (2)   Tácticas
     Na Força Aérea e nas Forças Terrestres:
        Activação coordenada, imediata e perfeita da rede de comunicações “terra-ar”, “terra-terra” (rede civil administrativa), implementação dos “orgãos conjuntos de apoio aéreo”. Pilares de todo o sistema:
        - “CENTRO CONJUNTO de APOIO AÉREO, com as suas secções “Terra”, “Mar” e “Ar”, em permanência, na BA 12.
        - “SECÇÃO CONJUNTA de APOIO AÉREO” em Nova Lamego.
        - “CENTRO de CAMPANHA de EXPLORAÇÃO FOTOGRÁFICA, na Base Aérea 12.
 
(3)  Comando e orgânica interna
Atribuição do novo sistema de forças ao escalão superior (Comando Chefe e Comando da Zona Aérea de Cabo Verde e Guiné).
Força de Intervenção só desencadeada quando a situação o justificasse. Constituia a Reserva do COMCHEFE.
b) Da parte do Inimigo
O moral robustecido com a potencialidade dos mísseis terra-ar e com o seu impacto imediato, desafiando a supremacia aérea em toda a zona de acção. Os sucessos que conseguiu, abatendo e atingindo aviões e helicópteros, conferiram ao In. a convicção de ter eliminado o “pesa­delo” da Força Aérea, cuja presença, em todas as modalidades, representava um sistema de armas a que não podia ripostar eficazmente, ainda que o seu dispositivo de artilharia anti-aérea tivesse reve­lado um poder de fogo de grande calibre; só o pouco treino dos seus operadores e muita sorte nas intervenções da Força Aérea tinham poupado mais elevadas perdas.
 
 
II. Colectânea de Efemérides Pertinentes
 
Duas Situações Paradigmáticas
1966 - CACHIL
 
Em BISSAU, Quartel-General do General Comandante-Chefe.
18.00 H.loc., 10 NOV 1966
“Briefing” diário.
 
Sob a presidência do General Arnaldo Schultz e com a presença do Comandante Militar, Brigadeiro Guerra Correia, e dos Comandantes das FT, da Defesa Marítima e da Zona Aérea CV/Guiné, é exposta a situação pelos oficiais chefes dos Gabinetes de Operações e de Informações do EM do COMCHEFE
 
Com a atenta e calma ponderação, que o caracterizavam, é focalizada pelo Gen Schultz a preocupante situação das guarnições do Cachil, Cacine e Cameconde. Receia-se o seu aniquilamento devido às contínuas flagelações de morteiros de 82mm, lança granadas de foguete e armas automáticas. O caso da guarnição do Cachil, único aquartelamento da nossa quadrícula no bastião inimigo da Ilha do Como, é revelador da intenção do desencadeamento de um ataque devastador contra a posição, já meio desmoronada.
 
O COMCHEFE chama a atenção para o facto de toda a Ilha do Como estar classificada como “ZLIFA”, dentro da área do Sector Sul do nosso dispositivo, do Comando do Coronel de Artilharia Roldão, QG em Catió.
 
O Gen Schultz interroga cada um dos Comandantes dos ramos sobre as suas possibilidades de intervir em defesa do Cachil. O rápido e substancial reforço dos meios é a resposta dos Comandantes das FT e da Marinha. O Comandante da ZACVG apresenta a sua “ideia de manobra”, em traços gerais e submete-a à consideração do COMCHEFE. Tratar-se- ia de uma operação independente da Força Aérea, numa fase preliminar. O aniquilamento completo do potencial do In na Ilha do Como seguir-se-ia com a intervenção atempada das FT, em exploração do sucesso. Contava-se com uma forte reacção da AAA do In, já conhecida, na Ilha do Como, Cantanhez e Quitafine. A FA já contabilizava não poucos aviões atin­gidos - FIAT, C-47 “DAKOTA” e DO-27 - nas Operações conjunta “RESGATE” e independente “ESTOQUE”.
 
 
 
Vista feérica de disparo em salva da AAA do Cantanhez, vista do Quartel de Cufar. “Recepção condigna” ao DAKOTA do Comandante da ZA/CV/Guiné orientando vaga posterior de bombardeamentos e sendo atingido.
100 Toneladas de bombas no objectivo; noites de 17, 18 e 19Dez1965. Aviões “NEPTUNO P2 V5” e “DAKOTA” modificado.
 
 
Toda a inquestionável e imperativa eficácia da operação que se propunha tinha como pressuposto a fiabilidade da rede de comunicações, aliás já posta à prova com a competência e dedicação sem limites do pessoal especialista, através dos inúmeros pontos de apoio das redesde campanha “táctico-administrativas”, de “apoio aéreo” e de “emergência”.
 
 
 
 
Aprovado o “PLANO DE ACÇÃO”, foi desencadeada a “Operação Samurai”.
 
Não obstante a ostensiva e irreverente hostilidade de oficiais da Compª Caç 763, de CUFAR contra a presença no seu aquartelamento de um efectivo de 223 militares da FA (constituindo um Comando Avançado” e um “Destacamento de Apoio Aéreo”) a “Operação Samurai” revelou o valor combativo que advinha da condição de a FA empreender uma ofensiva autónoma, que só a atribuição orgânica da força pára-quedista no seu seio lhe permitia assumir.
Terminada a “Operação Samurai” no dia 19 de novembro, o caminho estava aberto para a total ocupação da Ilha do Como pelas FT, em exploração do sucesso. Com efeito, o Gen COMCHEFE registava que, desde fins de Novembro, ao princípio de 1967, a guarnição do Cachil não voltou a sofrer ataques, nem de dia nem de noite. Paradoxalmente, tal exploração nunca ocorreu.
 
 
 
 
ILAÇÕES A COMPULSAR PARA UM FUTURO INCERTO
1. “Les propagandes corrosives - même en première ligne - avait beaujour et démolissait, en toute securité, les courages.” (Isto é: As propagandas corrosivas - mesmo nas primeiras linhas - singravam impunemente e demoliam, com toda a segurança, as coragens.)
“Fors L´HONNEUR”, Cap. Militar l´Abbé Bergey, 1943
2. “As forças especiais são muitas vezes o objecto de invejas, desagrado e incompreensão porque são escolhidas para missões secretas, treinadas com maior panóplia de armas do que o soldado do contingente geral” “Daí resulta o sentimento de injustiça que leva Comandantes a per­guntar com algum azedume, porque tiveram de ser atribuidas a contingentes de pára-quedistas ou “SAS”, quando as suas tropas es­tavam qualificadas, aptas e dispostas a tais oportunidades”
  “THE S.A.S. - SPECIAL AIR SERVICES”
  Philip Warner, 1982.
 
            1969                        1973
     CACINE - CAMECONDE           GUILEJE - GUIDAJE
Em LISBOA, Comando da 1ª Regão Aérea
 
Despacho do General Brilhante Paiva, CEMFA, de 10JUL.69:
 
“O Comandante da 1ª Região Aérea visitará o Teatro de Operações da Guiné, contactando localmente com a actividade operacional em curso, no âmbito da Força Aérea, ouvindo os Comandantes das Unidades sobre os problemas que mais os preocupam, contactando oficiais e sargentos para melhor avaliar do estado de espírito das tropas”.
 
No desempenho de tal missão foi dado observar:
1. Tudo o que, de qualquer forma, recordasse a chefia do Gen Schultz era votado à destruição. Foram desarticuladas estruturas erguidas com tenaz profissionalismo para servir o esforço de guerra. E a verdade é que o Gen Scultz se limitara, no âmbito da Força Aérea, a testemunhar a sua implantação e, inteligentemente, se apercebera da sua eficácia.
2. Em BISSAU. Quartel-General do General Comandante-Chefe.
  18.00 H loc de 18JUL 1969
  “Briefing” diário
Estas reuniões passaram a denominar-se de “CENTRO CONJUNTO DE OPERAÇÕES”. Esta alteração, tomada à letra, implicava uma limitação no leque de assuntos, deixando de fora os mais importantes e adequados a uma reunião do Estado-Maior Conjunto do Comandante-Chefe; a atmosfera reinante em tais reuniões era outra. Em JUL69 eram os majores e capitães a dialogar, informalmente, com o COMCHEFE. Não seria fácil ao Comandante Militar, Brigadeiro Nascimento, intervir para avançar com a sua opinião, nem, menos ainda, aos coronéis presentes. Não se perdia oportunidade, eventualmente, de encarecer as “provas” de desembaraço de subalternos milicianos nas suas unidades, “no mato”. O COMCHEFE incitava vivamente a que fossem ouvidos, nas deslocações dos seus “assessores”. Sem esforço, se seria induzido a pensar que o dispositivo não dispunha de Comandantes válidos.
3. BASE AÉREA 12, BISSALANCA
  Situação do Grupo Operacional
  Rendimento catastrófico da Manutenção às aeronaves atribuídas,
  a) Frota de aviões “DO-27” quase totalmente parada;
     b) Dos 19 helicópteros “Al III” apenas 3 se encontravam na situção desejável de “combat ready”.
Ausência de controlo de qualidade, mais do que de controlo de quantidade.
 
4. O Inimigo expandira a sua ofensiva com ataques de morteiros de 82mm à Base Aérea 12, a Bissorá, Teixeira Pinto e Farim.
Por decisão do COMCHEFE foram evacuados, a 8 de Fev 69, os aquartelamentos de MADINA DO BOÈ, BELI e GANDEMBEL.
Com todas as inerências políticas, exploradas pelo In, a vasta parcela territorial do BOÈ ficara sob o seu domínio absoluto.
“A soberania do território acaba onde o poder das suas armas acaba”. Jurista Holandês CORNELIUS van BYNKERSHOEK, 1703.
Por lembrança: Já muito longe ia o tempo em que reduzíramos o In aos seus ataques ás guarnições do CANTANHÊS e do CACHIL, restringindo ao Sector SUL a sua presença mais aguerrida. Às operações independentes da FA seguira-se uma acalmia. Em JAN 67, para além de flagelações ocasionais no Sector NORTE (BURUNTUMA fronteira NORTE), subsistia o “espinho” cravado no QUITAFINE.
 
 
 
 
A sua forte implantação na área já levara, em fins de DEZ 66, a cancelar a Ideia de Manobra que o iria demolir, dissuadindo dos ataques, com flagelações contínuas às nossas guarnições de CACINE e CAMECONDE.... O Plano de Acção da “Operação Apocalipse” não passara de um “sonho” - a reacção negativa de alguns potenciais executantes, pilotos da FA, levara o próprio COMZAVERDEGUINÉ a desistir de uma recondução na sua Comissão de serviço na Guiné, que estava prestes a terminar. A agrura da verdade impunha-se: não encontrava o requisito indispensável. Nem nos seus próprios combatentes, o “corpo de batalha“ da FAP, encontrava o moral sólido que o desafio do QUITAFINE exigia. A situção mantinha-se no mesmo impasse: A FAP, em áreas determinadas e conhecidas do espaço aéreo nacional perdera o domínio do ar.
Para o reconquistar tinha levado a cabo, com a potencialidade de que era detentora e fiadora, as Operações “Resgate” e “Samurai”. O domínio do ar, que lhe fora arrebatado sobre o CANTANHEZ e a ILHA do COMO voltara a pertencer-lhe.
Talvez que a decepção do In. desde logo o tivesse levado a ambicionar inverter a situação, com recurso a novo” sistema de armas - os “omnipotentes” mísseis “terra-ar”  “STRELLA”.
A verdade, porém, é que deles não necessitaria para voltar a impor o seu vasto domínio - O Sector do QUITAFINE o demonstrava à evidência.
Bastava-lhe vaticinar, logicamente, que uma “Operação Apocalipse” (que não passara de um sonho...) nunca seria desencadeada por ser incompatível com os conceitos operacionais reformulados, de uma nova “praxis” de Comando. Era patente que a táctica da “contra-subversão” evoluira, reduzida agora a “golpes de mão”, surtidas e emboscadas.
A panóplia (vectores e armamento do maior calibre) seria o forte e decisivo factor de dissuasão e estava na dependência orgânica, directa do Comandante da ZONA AÉREA de CABO VERDE, por inerência de funções Comandante da ZONA AÉREA da GUINÉ.
O desencadeamento da “Operação APOCALIPSE” implicava o recurso a estes meios de reforço. Aliás como tinham sido, legitimamente, mobilizados à “Ordem e responsabilidade” do “COMZAVERDEGUINÉ” na “Operação RESGATE” contra a Anti-Aérea do CANTANHEZ, entre 17 e 19 de Dez 1965.
Obviamente que estes meios de reforço eram incompatíveis com os novos conceitos, reformulados, da táctica da “contra-subversão.
... Quiçá a razão de terem sido paradoxalmente ignorados pelo Comandante da ZAVERDEGUINÉ. Nos paióis da Ilha do Sal continuaram adormecidos os cunhetes de bombas de 750 lbs.
E as flagelações aos aquartelamentos de CACINE, CAMECONDE e GADAMAEL continuaram e intensificaram-se.
 
As esperanças do In. continuavam voltadas para os resultados psicológicos de políticas ambíguas que, à mistura com os “seus” “STRELLA”, inoculavam nos combatentes a psicose da inutilidade de prosseguir a luta e os “aviadores da FORÇA AÉREA” apodados pelas FORÇAS TER­RESTRES” de “ceux qu´on na jamais vus”
(Título de livro de GUY BOUGEROL, TCor Observador/Ref, Capelão Militar da FA Francesa na II Grande Guerra: “Aqueles que nunca vimos” - “Quantas vezes, enquanto em repouso forçado dos últimos dias de Jun. 1940, nós meditamos, com o coração confrangido, sobre a derrocada do nosso País e ouvimos a queixa dos nossos irmãos das Forças Terrestres - “ Os aviadores, nós nunca os vimos”. E nós sabíamos que, depois de 10 de MAIO, a Aviação Francesa tinha lutado com a temerária energia do desespero, um contra seis.”
Edições Arthaud, PARIS - 03 NOV 1942)
 
NOTA à margem - Tive a honra e o prazer de conhecer o TCor G. Bougerol no Santuário de Lourdes, quando presidiu à Peregrinação Internacional das ASAS, 1964.
 
 
III.   Depoimentos Contemporâneos e Testemunhos Históricos
 
(1) - Depoimentos
(a) “ A partir de 25 de MAR1973 os pedidos de Apoio Aéreo eram limitados e cancelados os voos de DO-27, que traziam correio e frescos.. Sem Apoio Aéreo fizemos dez colunas em dois meses e não podíamos contar com ele.
... Pedimos evacuação aérea mas não a deram. 2 horas de flagelação contínua durante a tarde em GUILEJE”... “em 80 horas houve 800 rebentamentos.” “... a 25 de MAR 73 foi abatido em GUILEJE o primeiro avião com um missil “STRELLA. Durante todo o dia o quartel foi flagelado pelo IN.”
Depoimento do Coronel COUTINHO e LIMA, (Ref) ao jornal “Diário de Notícias”, em 01 MAR 2008.
(b) “O meu filho foi morto em combate na tarde de 23MAI 73 na zona de GUIDAJE, Norte da GUINÉ..... Acossada pelos guerrilheiros do PAIGC que também controlavam o espaço aéreo, a Comp. Caç. Pára-quedistas 121 rompeu, com os seus mortos, até ao aquartelamento de GUIDAJE.
A AVIAÇÃO, TEMENDO OS MÍSSEIS FICA EM TERRA, LONGE DO PERIGO.”
Depoimento da Srª D. LURDES JESUS FAIM ao jornal “Diário de Notícias” em 26 JUL 2008.
(c) “Em toda a Província, houve um período (nota do signatário - Aliás mais de 2 meses) em que só voava eu, pilotado pelo Coronel MOURA PINTO, Comandante da FA local.”
Depoimento do, então, General COMCHEFE ANTÓNIO S. SPÍNOLA em entrevista ao Coronel MANUEL BERNARDO, 1992.
(d) Foram emanadas ordens do Gen Chefe do Estado Maior da FA, com fundamento em Informações credíveis, sobre limitações do arsenal de misseis STRELLA na posse do In., reforçadas por testemunho de prisioneiros, operadores destas armas; em conformidade, “viriam os pilotos a conseguir lidar com esta situação.” (??)
Depoimento do Coronel MANUEL BERNARDO no seu livro “GUERRA, PAZ e FUZILAMENTO dos GUERREIROS”
História Militar - 2007
 
(2) - Testemunhos que enobrecem
Na II GRANDE GUERRA, auge da ofensiva da ROYAL AIR FORCE contra o potencial da indúsria de guerra alemã, o “Air Chief Marshal SIR CHARLES PORTER decidiu que a “sua” Aviação de Bombardeamento destruisse as barragens dos rios RUHR e WESER, reputadas de indestrutíveis, com o total de 346 milhões de toneladas de água as de MOHNE e de EDER, para além da barragem de SORPE, a mais bem defendida contra ataques aéreos, Eram vitais para o esforço de guerra e estavam defen­didas pela mais potente AAA, postada nas margens das albufeiras. Sobrepondo-se aos apologistas dos “bombardeamentos de área” ordenou que a ESQUADRA 617 procedesse, a qualquer preço, à destruição pontual das 3 barragens.
A técnica a adoptar, estudada nos laboratórios com todo o detalhe e determinação, era original, temerária e precisa na data de execução:
meados de MAIO, 1943, com as albufeiras no nível máximo da água e lua cheia, para que os “LANCASTER” pudessem fazer o voo razante a 60 pés de altura (cerca de 18 metros), em “Coluna de Esquadrilhas”. O Comandante da Esquadra, ao receber a “Ordem de Missão”, classificou-a de a mais louca proposta de ataque que, até hoje, me foi apresentada”.
Entre MARÇO 1943 e ABRIL 1944 o “BOMBER COMMAND” perdeu mais de 2 800 aviões e tripulações. Só no ataque à barragem da MOHNE, dos 133 tripulantes dos 18 “LANCASTER” envolvidos na Operação, 56 foram abatidos pela defesa anti-aérea alemã. O preço do ataque posterior à barragem de SORPE, no vale do WESER, foi muito superior em perdas de quadrimotores e tripulantes.
Não obstante, as tripulações de bombardeiros que evitassem o confronto com o inimigo arriscavam-se a severas punições em INGLATERRA.
Para a maior parte dos tripulantes o mais infamante era serem apodados de “LMF” (“lack of moral fiber”). Este veredicto implicava, consoante as circunstâncias, o “Tribunal Marcial”(“Court Martial”), com penas de prisão ou transferencia para o Exército ou, mesmo, demissão das fileiras, indo escavar carvão para as docas.
 
EPÍLOGO
ENSINAMENTOS DA LINHA DA FRENTE
1. “No meu próprio coração eu sei que o Comandante em Chefe
Marechal SIR JOHN FRENCH é completamente desajustado para o Comando Supremo numa ocasião de crise da História da nossa Nação.
  “Field-Marshal THE EARL HAIG, Agosto 1914
2. “O moral é o maior factor singular numa Guerra bem conduzida...; mas, sob as ordens de bons Comandantes, ele será sempre mantido entre as tropas, mesmo durante períodos prolongados das maiores adversidades.”
  General DWIGHT EISENHOWER,
  “CRUSADE IN EUROPE”, 1948. Pág. 231
  Windmill Press
  Kingswood, Surrey
 
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*      Sócio Efectivo da Revista Militar.
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2009-04-17
1645-0
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REVISTA MILITAR @ 2024
by COM Armando Dias Correia