General José Luiz Pinto Ramalho*
Em 2 de abril deste ano, nos jardins da Casa Branca, o Presidente dos EUA apresentou à opinião pública internacional um amplo pacote de taxas de importação a aplicar aos países com quem tem relações comerciais, sessão pública que a sua Administração designou como “Liberation Day”. Para além do impacto que esta declaração teve na estabilidade da economia mundial e no comportamento internacional do mercado bolsista, marcou igualmente uma nova postura americana no relacionamento comercial com os seus parceiros internacionais, aliados, amigos, parceiros ou mesmo competidores.
O Presidente americano Donald Trump tem sido apontado, talvez de uma forma demasiado simplista, como alguém que tem uma visão e uma gestão das relações internacionais e da diplomacia, algo empresarial e que as mesmas têm da sua parte um carácter “Transacional”. Contudo, a realidade das múltiplas ações e à medida que o tempo vai decorrendo, esse comportamento poderá ser mais do que isso. Edward Luttwak, estratego militar, ao acompanhar a política económica de Trump, referia que se tratava de dar uma nova visão à “geoeconomia”, utilizando a economia e os instrumentos comerciais e também financeiros, numa lógica estratégica militar operacional para atingir determinados objetivos.
Nessa perspetiva, a economia e os seus instrumentos operacionais são utilizados para promover e defender o interesse nacional, neste caso a visão do “Movimento MAGA e do conceito America First”. Esses instrumentos incluem as Tarifas, a legislação que impõe constrangimentos ao livre comércio, as sanções económicas, a desvalorização agressiva da moeda, a compra de ativos estrangeiros e a procura do controlo sobre a exportação da energia e dos materiais críticos, como a grafite recentemente, ou as “terras raras”. Do lado de Trump, já assistimos à utilização de todos estes instrumentos.
O caos provocado pela apresentação inicial dos valores das Tarifas a aplicar aos diversos países, os prazos indicados para a sua aplicação, o desafio para negociações sobre ambos para cada um dos países, as sucessivas prorrogações, a negociações individualizadas, levaram a uma fragmentação conjuntural do sistema económico/financeiro, com a incerteza e um agravamento negativo do mercado bolsista. A Administração americana viu, de certo modo, de forma positiva esse “caos”, como o resultado do anúncio e aplicação das Tarifas e o primeiro passo para refazer “uma nova ordem económica” que relance o poder dos EUA, ou seja, o seu domínio geopolítico global, utilizando a “geoeconomia” e a “geofinança”, aplicando os instrumentos comerciais e financeiros já referidos nos circuitos económicos e financeiros, nos mercados de todo o tipo, nas instituições e nos agentes económicos e financeiros.
A grande questão deste processo que, de certo modo, determinará o seu êxito ou parcial fracasso, porque múltiplos acordos têm vindo a ser realizados com diversos países, em particular com a UE, será determinado pelo resultado das negociações com a China. Um processo que começou com a atribuição recíproca de Tarifas muito elevadas, seguiram-se reduções sucessivas e um acordo precário relativo às exportações de “terras raras” e à comercialização de semi-codutores. Contudo, a negociação de um acordo definitivo que já começou, com os dois grandes atores internacionais é determinante e de cujo final resultará uma influência marcante para a economia mundial.
De um lado, a China que detém a hegemonia da manufatura de componentes críticos para a transição quer energética quer climática, quer no âmbito das tecnologias de informação, incluindo as cadeias de abastecimento de minerais críticos e das “terras raras” e, do outro, os EUA que controlam a produção e comercialização dos semi-condutores e micro-chips mais avançados, a par de um controlo dos circuitos financeiros, quase hegemónico, decorrente da posse do Dólar como moeda comercial mundial e do seu papel financeiro, como divisa de Reserva.
É um facto que a imposição de Tarifas por parte dos EUA tem causado enorme turbulência nos mercados internacionais e na previsibilidade dos comportamentos dos agentes económicos, o que é crucial para a estabilidade dos preços e controlo da inflação. Se do lado americano a sua utilização tem servido os objetivos económicos nacionais pretendidos está por provar. Mas de acordo com o Financial Times de 17 de julho de 2025, o Tesouro americano tinha arrecadado uma verba de 50 Mil Milhões de Dólares, provenientes das referidas tarifas impostas, o que corresponde a um aumento de 47 Mil Milhões para igual período no ano passado, o que não deixa de ser significativo para a saúde da economia americana.
_______________________________
* Presidente da Direção da Revista Militar.
-------------------------<>-------------------------
1. Promoção por distinção, a título póstumo, ao posto de General do Tenente-general Vasco Joaquim Rocha Vieira
Decreto do Presidente da República n.º 60/2025 de 1 de julho [...]
Presidente da República presidiu à cerimónia de promoção, a título póstumo, do General Rocha Vieira [...]
Cerimónia de Promoção, a Título Póstumo, ao posto de General, do Tenente-General Rocha Vieira [...]
2. Memória da guerra, compromisso com a Paz: a vontade que defende a liberdade – a arte da Paz
General Eduardo Mendes Ferrão e Tenente-coronel António Ferreira
No concelho de Arganil, encravada entre as profundas encostas da Serra do Açor, vive a aldeia da Benfeita, uma aldeia marcada pelo perfil lascado do xisto e pela calmaria do tempo [...]
3. A Identidade Nacional
Prof. Doutor Manuel Braga da Cruz
A recente discussão pública sobre o controlo da imigração e sobre as condições em que se deve processar, designadamente a exigência formulada do respeito pela nossa cultura e maneira de ser, levantou a questão de saber se existe uma cultura portuguesa e em que consiste. [...]
4. O Brasil na Comunidade de Países de Língua Portuguesa. Será a CPLP relevante para o Brasil?
Coronel Luís Manuel Brás Bernardino
Fala-se atualmente nos Países da Lusofonia muito pouco sobre a Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), e muito desse pouco é para dizer mal ou para criticar a inação política, a falta de iniciativa estratégica ou mesmo a pouca relevância operacional, no complexo contexto global onde vivemos. [...]
5. Cooperação internacional e insurgência criminal: reconfiguração da Segurança nas Relações Internacionais
Coronel Fernando de Galvão e Albuquerque Montenegro
A segurança internacional, historicamente concebida como preservação da soberania contra ameaças externas (Waltz, 1979), enfrenta no século XXI um ambiente operacional profundamente transformado. [...]
6. O cenário atual e o futuro das operações de paz da ONU
Professora Geraldine Rosas Duarte e Professora Letícia Carvalho
Entre 13 e 14 de maio de 2025 ocorreu em Berlim o UN Peacekeeping Ministerial, um encontro envolvendo o alto escalão de 130 Estados-membros e de variados parceiros internacionais da Organização das Nações Unidas, visando discutir o futuro das operações de paz. [...]
7. NATO – The Hague Summit Declaration
8. European Council meeting (26 June 2025) – Conclusions
9. XV Conferência de Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa - Declaração de Bissau
10. Crónicas Bibliográficas
Crónicas em Tempo de Guerras, de Diplomacia e da Paz
Nuno Pereira da Silva