Nº 2680 - Maio de 2025
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

Crepúsculo do Império – Portugal e as Guerras de Descolonização

Pedro Aires Oliveira e João Vieira Borges (Coord.)

 

 

Esta obra, da iniciativa da Comissão Portuguesa de História Militar (CPHM), nasceu na sequência da aprovação ministerial de um projeto incluído no Programa de Atividades da CPHM no âmbito da evocação da “Guerra de África 1961-1975”.

50 anos depois, as guerras travadas por Portugal entre 1961 e 1975, com vista à preservação do seu secular império ultramarino, são impossíveis de ignorar em qualquer balanço histórico.

Apesar do tempo, as sequelas desta guerra continuam presentes na sociedade portuguesa (e na da Guiné, de Angola e de Moçambique), sejam elas físicas ou psicológicas. Foi uma guerra pela manutenção do Império Português, entre irmãos que viviam na mesma terra e falavam a mesma língua, bem diferente do que foi, no mesmo período, a guerra do Vietname para cerca de 2,5 milhões de americanos. E esta especificidade, torna ainda mais dolorosas as feridas, para todas as partes envolvidas. Tenho consciência (e vivência) de que cada linha, cada página e cada artigo, “tocam” nessas feridas causadas pela guerra e pela descolonização.

Partilhei a coordenação (e escrita) da obra com o professor universitário Pedro Aires Oliveira, investigador sabedor, rigoroso e profundo conhecedor da temática e dos últimos estudos realizados sobre o tema em Portugal e pelo Mundo.

Depois da seleção dos temas e do levantamento das normas gerais, passámos à escolha dos autores (em maio de 2022), o que constituiu tarefa particularmente difícil, pois não quisemos que se tratasse de exclusões, mas simplesmente de opções que mais se adaptavam ao que pretendíamos que fosse relevado em função de estudos entretanto desenvolvidos ou em desenvolvimento.

Abrimos as portas a temas difíceis, a textos originais e à diversidade de opiniões, muitas vezes sobre o mesmo tema, dando espaço ao leitor para as suas opções. Também por isso não é um livro institucional.

E no final temos 800 páginas trabalhadas por 37 autores oriundos de várias instituições portuguesas e internacionais, bem como de especialistas reconhecidos na área da história, da estratégia e das ciências militares.

Temos uma obra sobre um tema que merece 800.000 páginas, uma por cada um dos combatentes que participaram nesta guerra ao longo de mais de 13 anos.

Temos um livro que apresenta um grande estado da questão sobre os últimos anos do colonialismo português.

Temos uma obra que traz um olhar diferente, que procura integrar facetas menos conhecidas desses conflitos (a participação feminina, os prisioneiros de guerra, o fenómeno da deserção, a propaganda, os africanos que combateram pelo império, as sequelas físicas e psicológicas dos antigos combatentes), assim como a perspetiva dos movimentos nacionalistas africanos.

Temos um livro científico dirigido ao grande público (não só aos que combateram e aos que viveram a descolonização) e por isso, a consciência de que nem todos gostarão de ler este ou aquele artigo, este ou aquele tema, este ou aquele autor. Mas entendemos que é importante lerem a obra na sua totalidade, anotando as discrepâncias premeditadas, dando melhores e novas respostas a questões de sempre, criando espaço para a entrada de novos testemunhos e investigações.

Para além de uma introdução explicativa dos objetivos da obra, e dos mapas relativos aos três teatros de operações, a obra está dividida em cinco capítulos, respetivamente: I Enquadramento; II Economia e Sociedade; III Mobilização, Luta e Propaganda; IV Dor e Sofrimento; V Fim do Império.

Inclui ainda uma importante recolha bibliográfica e filmográfica (cedidas aos leitores em código QR) e um útil índice remissivo.

À Bertrand Editora (Grupo Porto Editora) se deve uma nota de elogio pela qualidade gráfica de um volume grandioso, mas simultaneamente tão fácil de manusear. E ao João Moreira Tavares, que para além de co-autor foi muito mais do que o “secretário” de todo o projeto, no apoio à coordenação, na ligação aos autores, nas propostas e sugestões de fotos, de revisão técnica e de índice, uma nota de gratidão aos autores. Entre as poucas (mas boas) imagens, destacam-se as de Alfredo Cunha e Joaquim Lobo.

Deixamos a opinião geral sobre o livro a dois destacados investigadores, cujas palavras fazem parte da contracapa, a saber:

– Maria Inácia Rezola (historiadora, comissária executiva para as comemorações do 50º aniversário do 25 de Abril): «Meio século passado sobre a queda do império colonial português, este livro constitui um impulso importante no já profícuo filão de estudos académicos sobre o tema. Esta obra introduz também dimensões pouco estudadas do fenómeno da guerra e da descolonização, apresentadas sobre uma perspetiva pluridisciplinar e inovadora. Estamos perante uma história de referência para todos os que pretendam conhecer o Crepúsculo do Império»;

– Ricardo Soares de Oliveira (professor de relações internacionais, Universidade de Oxford): «No contexto de uma dinâmica historiográfica sobre os últimos anos do colonialismo, este volume é uma contribuição imprescindível e com poucos equivalentes. Trata-se de uma obra que revela um denso e sofisticado diálogo com as literaturas comparativas e teóricas sobre esta temática. Um livro essencial».

 

A Revista Militar felicita os autores e agradece a amável oferta do livro à editora “Bertrand”.

 

Major-general João Vieira Borges
Sócio Efetivo e Vogal da Direção da Revista Militar

Major-general
João Jorge Botelho Vieira Borges
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