Nº 2656 - Maio de 2023
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

Livro de Crónicas

Nuno Pereira da Silva

 

Este “Livro de Crónicas”, da autoria do nosso secretário da Mesa da Assembleia-Geral, o Coronel Nuno Pereira da Silva, editado pela Diário de Bordo, constitui um testemunho do próprio relativamente às grandes questões de política internacional e de segurança e defesa durante o período de novembro de 2021 a janeiro de 2023.

Abrange, assim, as questões relacionadas com a COVID-19 e o primeiro ano de guerra na Ucrânia. Tem por base os vários textos que foi escrevendo e publicando nos jornais e nas redes sociais, incluindo outros temas mais conjunturais, como a situação política nos diferentes Países de Língua Oficial Portuguesa ou mais estruturais, como os conceitos estratégicos de Portugal e de outros países.

A escrita é jornalística, as reflexões incluem uma boa dose de razão e emoção e o resultado é escrutável, ou seja, o leitor pode ir acompanhado a posição e as preocupações do autor relativamente à Guerra na Ucrânia, desde os primeiros dias.

O livro (358 páginas) começa com uma pequena introdução, a que se seguem as dezenas de crónicas, começando pela “Crise Bielorrussa” onde destaca:

“Putin, que já deslocou tropas para a região, está assim, através de Lucashenko, o seu súbdito Bielorrusso, a jogar uma cartada forte contra a UE e o Ocidente, que pode provocar uma escalada numa crise migratória fronteiriça, que pode ser o rastilho de uma guerra, caso a NATO intervenha em força na região” (p. 31).

Depois da “Crise latente”, da “Crise ucraniana”, do “Retorno à Guerra Fria”, da “Invasão da Rússia”, termina com uma crónica intitulada “O Grupo Wagner e a atuação de mercenários em operações militares”, datada de 15 de janeiro de 2023 (muito anterior ao que viria a suceder a 24 de junho, com a “marcha para a justiça”), de que destacamos:

“As democracias liberais têm muitas vantagens na sua utilização, e pelos vistos as autocracias como a de Putin também, pois têm utilizado esta tropa mercenária por toda a África e Médio-Oriente, com vantagens, muito embora na Ucrânia o sucesso do Grupo, comece a ser incómodo para Putin, porque o seu líder começa a ser um opositor, de vulto, interno de Putin ameaçando o seu poder pela direita. Bem como a atuação do Grupo de uma forma independente, à margem da hierarquia militar, comece a causar problemas na condução da guerra…” (p. 358).

A determinação do autor tem ultrapassado a adversidade da doença que o tem condicionado, nomeadamente na escrita e na leitura. Por isso, este livro tem ainda maior significado. Por isso, mistura pensamentos, experiência de vida, análises, perplexidades e angústias. Por isso, e no caso da Guerra na Ucrânia, inclui as várias dimensões da guerra, enquanto fenómeno social. Fica um legado, que tem muito do autor.

Sendo um livro de crónicas, marcado pelo dia a dia, muitas vezes o autor nada para fora da “espuma” e da agenda da comunicação social. Por isso, pode ser lido por assuntos ou cronologicamente, o que favorece a reflexão sobre temas importantes dos nossos dias, caso da Guerra da Rússia na Ucrânia ou da caracterização do Sistema Político Internacional.

 

A Revista Militar agradece a amável oferta do livro e felicita o autor e a Editora Diário de Bordo.

 

Major-general João Vieira Borges

Vogal da Direção da Revista Militar

Major-general
João Jorge Botelho Vieira Borges
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