Nº 2668 - Maio de 2024
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

A BOINA VERDE DAS TROPAS PARAQUEDISTAS PORTUGUESAS:
História, Legislação, Tradições e o seu uso desde 1955

Miguel Silva Machado

Edição do Autor, Lisboa 2022

(Foto de capa Alfredo Serrano Rosa)

 

O livro “A Boina Verde das Tropas Paraquedistas Portuguesas. História, Legislação, Tradições e o seu uso desde 1955” da autoria do Tenente-Coronel SG/Paraquedista (Reforma) Miguel Machado1, sócio efetivo da Revista Militar, numa edição de autor publicado em 2022, aborda com grande detalhe a história da boina verde criada no âmbito dos estudos que deram origem à primeira unidade paraquedista, e usada desde 1955 em Portugal. O livro é ainda uma maneira de acompanhar os diferentes períodos da vida da história das tropas paraquedistas.

O autor apresenta o suporte legal que durante os anos na Força Aérea regulavam o uso da boina verde, os problemas decorrentes da falta de legislação uma vez transferidos os paraquedistas da Força Aérea para o Exército, a nova regulamentação publicada em Diário da República em 2011 e 2019 e as mudanças no uso da boina concretizadas em 2022, com um Despacho do Chefe do Estado-Maior do Exército.

O livro inclui ainda um capítulo dedicado ao novo memorial em honra dos fundadores das tropas paraquedistas – Exordium – que se encontra no Regimento de Paraquedistas e uma republicação de artigos do autor alusivos à temática da boina que ajudam a compreender este complexo processo. Destaca-se ainda nos anexos uma lista exaustiva de toda a legislação sobre este assunto em particular publicada até 2022.

O autor inicia a sua reflexão pessoal considerando a “Boina Verde símbolo de elite” e começa por salientar que em 1955 concretizava-se o projeto de criar uma unidade paraquedista em Portugal, obra de anos que se deve em primeiro lugar ao então ministro da defesa nacional, Fernando dos Santos Costa. Foi o próprio ministro que escolheu a cor da boina, a insígnia, o momento em que seria usada pela primeira vez – em Alcantarilla, Espanha no final do Curso de Paraquedismo que formou o primeiro grande grupo de militares portugueses – e o dia da sua apresentação em Portugal, a 14 de agosto de 1955, numa parada militar na Avenida da Liberdade em Lisboa. Pelo articulado legal da sua criação percebe-se que seria um elemento diferenciador de elevado significado. Era necessário provar na prática que assim era. Isso foi atingido porque na realidade havia vários aspetos originais ou pouco vulgares nas tropas paraquedistas: Só aceitavam voluntários – caso único nas Forças Armadas Portuguesas nessa altura e durante toda a Guerra do Ultramar nas unidades metropolitanas; aos voluntários (Praças) exigiam-se habilitações literárias mínimas – 4.ª Classe do Ensino Primário o que à data não era exigido para se cumprir o serviço militar obrigatório; a formação era muito exigente do ponto de vista físico, técnico e psicológico; o salto em paraquedas não só para obter a qualificação como para a manter durante o tempo nas fileiras, sendo uma atividade muito pouco conhecida em Portugal nesses anos, era considerada muito arriscada. A todas estas exigências retribuía-se com símbolos exclusivos, catalisadores do espírito de corpo, mas também regalias materiais, como uma gratificação mensal que na altura era bastante razoável: oficiais 1.000$; sargentos 600$; cabos e soldados 450$.

Relativamente à “Guerra do Ultramar”, refere o autor que foi a atuação dos batalhões de caçadores paraquedistas na Guerra do Ultramar que definitivamente atribuiu à boina verde o significado que ela adquiriu em Portugal. Muito se pode falar sobre este período, mas julgo que esta síntese de um não-paraquedista é bem ilustrativa do que se passou no Ultramar com os boinas verdes: «…pelas suas acções de combate nos apercebemos serem possíveis porque se cultivava uma mística sem dúvidas, se praticava um treino físico e táctico diário, se desenvolviam missões bem planeadas, assentes numa doutrina de actuação que se baseava em lições aprendidas na dor e no sacrifício e onde heróis nasciam não por vontade, mas pela solidariedade nas crenças e convicções daqueles que usavam a boina verde…» General Gabriel Augusto Espírito Santo (1935-2014), Chefe do Estado-Maior do Exército e Chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas.

Sobre o “Corpo de Tropas Paraquedistas”, o autor salienta que após o final da guerra os paraquedistas – melhor dizendo, parte deles – envolveram-se no chamado Processo Revolucionário em Curso, em ambos os campos, antidemocráticos e democratas, tendo esta fase da sua vida coletiva quase conduzindo à extinção. Recuperaram através da criação do Corpo de Tropas Paraquedistas uma instituição que em tempo muito curto alcançou não só efetivos muito relevantes, como um alto grau de prontidão operacional e uma razoável dotação de armamento e equipamentos modernos. A boina verde continuava a ser símbolo reconhecido de militares de elite.

Sobre a passagem para o “Exército”, ocorrida em 1 de janeiro de 1994, o autor salienta que as Tropas Paraquedistas são transferidas em bloco da Força Aérea para o Exército com todos os seus equipamentos e armamento e bases. Passam a ser legalmente designadas Tropas Aerotransportadas e em breve começam a ser empenhadas nas missões de paz. A primeira unidade de combate portuguesa a atuar na Europa depois da I Guerra Mundial foi o 2.º Batalhão de Infantaria Aerotransportado composto na sua esmagadora maioria por boinas verdes. Muitas outras missões se seguiram para os batalhões de infantaria paraquedista – a designação paraquedista foi recuperada em 1999 – até aos dias de hoje, na República Centro Africana. O prestígio e simbolismo da boina verde mantém-se, da Bósnia ao Afeganistão, do Kosovo a Timor-Leste e à República Centro Africana, os paraquedistas têm atuado ao seu melhor nível prestigiando as Forças Armadas e Portugal.

O livro, com 213 páginas, é profusamente ilustrado com mais de 100 fotografias a preto e branco e a cores, algumas inéditas, com especial referência ao uso da boina e às sete diferentes insígnias que usou desde 1955. É por este motivo, não só um contributo para a História das Tropas Paraquedistas Portuguesas, mas também para a história das nossas Forças Armadas.

 

A Revista Militar agradece a gentileza do livro oferecido para a nossa biblioteca e deseja ao autor os maiores sucessos editoriais.

 

Coronel Luís Manuel Brás Bernardino

Diretor-gerente da Revista Militar

 

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1 Sócio efetivo da Revista Militar, desde 1997, na qual foi Secretário da Assembleia-geral, durante 13 anos (2000-2013), e responsável pela secção de «Crónicas Militares Nacionais», durante 16 anos (1998-2013). Tem também escrito nas páginas da Revista Militar sobre a história das tropas paraquedistas e a sua participação nas missões de paz. É autor e co-autor de livros sobre temática militar. Foi fundador (em 2009) e proprietário do site www.operacional.pt, dedicado a temas da Defesa Nacional e Forças Armadas. Ao longo das últimas três décadas, tem colaborado regularmente com várias revistas militares portuguesas e estrangeiras.

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