Nº 2461/2462 - Fevereiro/Março de 2007
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
CRÓNICAS III - Crónicas Bibliográficas

A Vida dos Doze Césares - Volume 2

(Tibério, Calígula e Cláudio)

 
 
 
No Nº 6/7 da Revista Militar - Junho/Julho de 2005 (pp. 739-741), apresentámos a crónica bibliográfica do primeiro volume da obra A Vida dos Doze Césares (Júlio César e Octávio César Augusto). Neste número temos o grato prazer de analisar o segundo volume desta obra de Gaius Suetonius Tranquillus (Suetónio), numa tradução de Adriaan de Man, que inclui a biografia de três imperadores romanos: Tibério, Calígula e Cláudio.
 
Tal como o anterior, este volume apresenta uma boa organização, com um estudo introdutório, acompanhado de uma bibliografia de apoio, de uma cronologia e uma árvore genealógica dos três impera­dores romanos biografados.
 
Tibério e seu irmão Druso, de família aristocrática romana, eram filhos de Tiberius Claudius Nero e de Lívia Drusila. A sua mãe separou-se do pai, enquanto ele e o irmão eram bastante jovens, para casar com o imperador Augusto, que o adoptou como filho e o nomeou seu sucessor. À medida que foi crescendo, Augusto confiou-lhe tarefas de maior responsabilidade, fazendo dele general das legiões da Germânia Inferior, mas as relações familiares atribuladas lavaram-no a isolar-se em Rhodes, sob o pretexto de querer estudar retórica, o que constituiu um afronta para o pai adoptivo.
 
Anos mais tarde, Tibério sucedeu no trono imperial, com o nome de Tibério César Augusto. Mas, pouco tempo depois da subida ao trono, as diversas vicissitudes políticas revelaram a sua natureza instável e conflituosa, com uma vida pessoal intrincada e de costumes duvidosos. Porém, foi um grande administrador, tendo multiplicado em muito o dinheiro deixado por Augusto e tendo preservado a “Pax Romana”. Após a sua morte o império foi administrado pelo seu sobrinho-neto Gaio César Germânico (Calígula) e pelo neto Tibério Gemelo.
 
Algum tempo depois, Calígula (cognome que lhe foi inculcado, desde miúdo, pelos soldados, no seio dos quais foi educado) manda matar o primo, tornando-se no único imperador, a quem passaram a ser conhecidas grandes ambições, natureza cruel e viciosa.
 
Recuperado de uma doença grave, quase mortal, resultante de febre cerebral, mudou o seu comportamento, chegando a inflamar os corações dos romanos com actos afectivos, de alguma demagogia. No entanto, mais tarde, Calígula retomou o terror das perseguições, com atitudes extravagantes e monstruosas, sem qualquer pudor, que incluíram o insulto público das irmãs e das várias mulheres com quem casou, retirar estátuas de heróis e ilustres romanos e esculpir a sua cabeça nas estátuas de deuses de Roma, intitulando-se como um deus, o que o tornou impopular.
 
Pouco culto, mas autor e decisor de crimes monstruosos, retirou aos cidadãos mais nobres distinções ancestrais, esgotou os seus recursos, o que o fez recorrer a actos de rapina e a formas engenhosas de ludíbrio, leilões e impostos, chegando a vender jóias e mobiliário por preços exorbitantes. Como chefe militar demonstrou falta de senso e de liderança - “as suas vestes, o seu calçado e a sua postura nunca foram dignos de um Romano, de um cidadão, nem sequer de um homem, em suma de um ser humano” - acabando por morrer assassinado por um membro da sua guarda pessoal, tendo a sua memória sido apagada pelo Senado.
 
Tibério Cláudio Nero César Druso era filho de Nero Cláudio Druso e Antónia Minor, neto de Livia Drusa. Desde a nascença que Cláudio sofreu de deficiências físicas que o tornaram coxo e com dificuldades de comunicação, gaguejando fortemente e adormecendo com frequência, a qualquer momento do dia. Talvez por isso, nunca tenha sido levado a sério como possível general ou imperador, escapando à “limpeza” na família imperial romana levada a cabo pelos seus antecessores, Tibério e Calígula. Apesar disso, era um homem muito culto, evidenciando paixão pelo estudo da literatura grega. A sua saúde melhorou depois de se tornar imperador.
 
Tendo ficado apavorado com o assassinato de Calígula, aos cinquenta anos de idade chegou ao cargo de imperador, após o que tentou apagar a má imagem do seu antecessor, mandou executar os assassinos de Gaio César e dedicou-se à família. Apesar disso, casou quatro vezes, mas em nenhum dos casamentos foi feliz. As duas primeiras mulheres foram repudiadas e Messalina foi executada por traição, adultério, libertinagem e acusação de conspiração. De Messalina, Cláudio teve os seus dois únicos filhos.
 
O seu reinado não foi livre de assassínios e perseguições políticas, apesar do tom geral ser bastante mais calmo que o dos seus antecessores, embora demonstrasse uma “natureza feroz e sanguinária”. Economicamente, Roma recuperou depois dos excessos de Calígula, tendo empreendido grandes obras públicas, tal como a expansão do porto de Ostia. Conquistou as Ilhas Britânicas, criando a província romana da Britânia, em cuja invasão tomou parte, acrescentando Britannicus aos nomes de seu filho, para indicar a posse romana da nova região. Restabeleceu ou instituiu diversos hábitos relativos às cerimónias religiosas, aos costumes civis ou militares, tornando, igualmente, permanente a actividade dos tribunais.
 
Para o fim da vida, Cláudio tornou-se bastante permeável à influência de Agripina, a sua quarta mulher. Por sua indicação deserdou o seu próprio filho e nomeou o enteado Nero como sucessor. O facto de ter morrido de repente pouco depois desta troca de sucessor, leva muitos historiadores a pensar na hipótese de envenenamento pela mulher. A sua morte foi mantida em segredo “até serem tomadas todas as providências para assegurar um sucessor.
 
Aguarda-se a publicação da vida dos restantes Sete Césares que nos trarão mais elementos esclarecedores dos momentos de glória ou de derrota de Roma.
 
Mais uma vez, a Revista Militar felicita a edição deste clássico da literatura universal, que recomenda, vivamente, agradecendo a oferta da publicação aqui comentada.
 
Major-General Adelino de Matos Coelho
Sócio Efectivo da Revista Militar
 
 
 
 

BODAS DE OURO

dos Cursos entrados na Escola do Exército em 1956

50 ANOS

1956-2006

 
 
Os jovens que em 1956 ingressaram na Escola do Exército comemoraram as suas Bodas de Ouro no dia 24 de Novembro de 2006 no quartel da Academia Militar (Amadora).
 
Para valorizar o evento cunhou-se uma Medalha Comemorativa e editou-se o livro BODAS DE OURO onde constam biografias de todos, indicação de obras que publicaram, historietas de tempos idos, curiosidades, destaques e estatísticas.
 
Em 1956 entraram 193 alunos dos quais 154 foram oficiais da Armada, Exército, Força Aérea e Forças de Segurança, tendo 20 atingido postos de Oficial-General dos quais dois Chefes de Estado-Maior do Exército [Rocha Vieira (14Jul76 a 04Abr78) exercendo o cargo como General Graduado (seria nesse período TCor/Coronel) e António Barrento (19Mar98 a 19Mar01)].
 
O livro não trabalha aspectos estatísticos completos, mas a partir do estudo das biografias pode concluir-se que o conjunto cumpriu mais de quinhentas missões no Ultramar, de que resultaram como principais condecorações, duas medalhas de Valor Militar e dezoito de Cruz de Guerra. No âmbito da cultura, da ciência, da gestão e do desporto, o curso apresenta forte representação, nomeadamente o escultor, Coronel José Núncio, colaborador da Revista Militar em diversas ocasiões (falecido em 2006), o músico e importante divulgador de jazz José Duarte, o cavaleiro olímpico Coronel Vasco Ramires e quatro Sócios Efectivos da Revista Militar.
 
O trabalho realizado merece ser apontado como exemplo a seguir para elucidar a sociedade civil sobre os méritos dos oficiais do Exército da geração em análise. Como refere A Comissão Organizadora, a obra “ (…) pretende sintetizar o que fomos, o que fizemos e onde chegámos, pessoal e profissionalmente, através de breves sínteses biográficas.
 
Para terminar esta nota sobre o BODAS DE OURO transcreve-se do Prefácio da autoria do 48/187, General do Exército António Eduardo Queiroz Martins Barrento, Presidente da Assembleia-Geral da Empresa da Revista Militar, “Todos os cursos falam de si como de uma geração. A maior parte não passa de intervalos entre gerações. Não é o nosso caso.
 
Nós vivemos intensamente grandes mutações e anos difíceis. Fomos mais actores que espectadores. Gastámos as botas, nos trilhos de África, em várias comissões militares. Conhecemos a Índia, a África e o Oriente. Vivemos a paz e fizemos a guerra. Vivemos o golpe de estado, a tentativa de revolução e a procura da democracia. Vivemos o fim do Império e a tentativa de novos rumos. Vivemos tudo isto intensamente. Temos uma experiência riquíssima e rara.
 
A Revista Militar agradece ao Coronel de Artilharia, Secretário da Assembleia-Geral da Empresa, Alberto Ribeiro Soares, coordenador geral do Livro sobre o Curso, o exemplar enviado onde inscreveu a dedicatória, “Para a Revista Militar, cujo acervo bibliográfico, já de si muito valioso, espero fique enriquecido com este modesto trabalho”.
 
Coronel António de Oliveira Pena
Director-Gerente do Executivo da Direcção
 
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Adelino de Matos Coelho
Coronel
António de Oliveira Pena
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Major-general

Adelino de Matos Coelho

Habilitado com os Cursos de Infantaria, da Academia Militar, Geral de Comando e Estado-Maior e Superior de Comando e Direção, do Instituto de Altos Estudos Militares; possui outros Cursos de que se destacam o de Oficial de Informação Pública do Comando Aliado da Europa da OTAN (Bélgica), o Curso Militar de Direito Internacional dos Conflitos Armados, do Instituto de Direito Humanitário de Sanremo (Itália) e o Diploma de Pós-Graduação em Estudos Europeus da Faculdade de Direito da Universidade de Lisboa.

Ao longo da sua carreira, prestou serviço em várias Unidades e Órgãos do Exército, nomeadamente, no Regimento de Infantaria de nº 3, em Beja, que comandou, e no Estado-Maior do Exército, onde desempenhou o cargo de Chefe da Divisão de Pessoal. Além disso, também desempenhou carg

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António de Oliveira Pena

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