Nº 2443/2444 - Agosto/Setembro de 2005
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Transportes Futuros na Revista Militar
Coronel
António de Oliveira Pena
Polémica Real - 1860
OTA e TGV - 2005
 
Quando os caminhos de ferro materializaram pela primeira vez o conceito de velocidade no mundo moderno, meados do século XIX, na Revista Militar, números de 1860, a propósito da construção do Caminho de Ferro do Leste, discutiam-se com respeito mútuo e elevação, as razões económica e estratégica, esta ainda apenas integrada no valor militar, da inovadora obra de engenharia.
 
A polémica resulta do artigo, O CAMINHO DE FERRO DO LESTE - A razão económica e a razão estratégica, datado de Lisboa, 20 de Abril de 1860, não identificado, mas sendo do Rei D. Pedro V, publicado no Nº9, 15 de Maio de 1860, “Ainda que militares, não acompanhamos o sr. visconde de Sá nas considerações economicas com as quaes apoia a sua preferencia ao caminho de ferro do sul em relação a linha destinada a pôr-nos em communicação com o paiz visinho, e com o resto da Europa.”. Este trabalho do Rei provoca Monomania Patriótica, peça do Capitão de Infantaria, Luís Augusto Pimentel, publicada no Nº12, ao qual o Rei responde com, AINDA O CAMINHO DE FERRO DE LESTE - Duas palavras ao Sr. Capitão Luiz Augusto Pimentel, em 8 de Julho de 1860. O Capitão Pimentel, que entretanto descobriu qual era a verdadeira personalidade do seu contraditor, publicou na Revista, em 31 de Julho, “Luta desigual”, encerrando-se esta questão, não só de técnica militar.
 
Ao longo dos anos, A Polémica Real tem sido estudada por Sócios Efectivos da Revista e Académicos, havendo trabalho de elevado pormenor no Nº5, Maio de 1948, por parte do Sócio Efectivo, Vogal da Direcção, General Raul Esteves e no Nº11/12, de Novembro/Dezembro de 1986, da autoria do Professor Rúben Leitão, Académico de Número da Academia Portuguesa da História.
 
Agora, OTA e TGV - 2005, também podiam provocar polémica nas páginas da Revista, mas nem o cuidado e fundamentado trabalho, “O Aeroporto de Lisboa” - “A Eminência do desastre técnico e económico - O parâmetro enjeitado e a pedra angular”, da autoria do Sócio Efectivo, Major-General PilAv, José Duarte Krus Abecasis, publicado no Nº2/3, Fevereiro/Março de 2004, provocou contraditório.
 
Na verdade quando parecia tudo estudado e discutido em 1999, o General PilAv José Lemos Ferreira dizia (memória de leituras, audições, entrevistas em OCS/outros), “que foi para o Movimento Pró-Rio Frio porque o convidaram e por ter a convicção de que pelo menos existia uma garantia muito forte, sobre todas as perspectivas, de que entre as duas localizações possíveis, a da OTA representa um autêntico disparate e pior que a OTA só o alargamento da Portela”. O saudoso e bom amigo, Comandante Virgílio de Carvalho, escrevia, “ (...) Daí que me pareça, por razões de ordem geoeconómica, que um aeroporto internacional servindo o mais equitativamente que for possível e aconselhável os três (referia-se aos estuários do Tejo e do Sado e ao porto de Sines), a situar naturalmente a sul do Tejo, (...)” DN de 09Mai99. Outros do Movimento Pró-Ota justificavam a saída da Portela pelas mais diversas razões e demonstravam as vantagens do novo aeroporto se construir na Ota. Na altura existia também o lobby Pró-Portela, Dr João Soares (Presidente da CML), Portugália e o Porto (Presidentes da AIP e da Câmara).
 
Em 2003 surge Portugal em Acção com traçados de TGV e orientações face ao Novo Aeroporto, mas o ambiente político dificultou a decisão final.
 
Hoje, Verão de 2005, surge a decisão no sentido de se concretizarem, no próximo Outono, sonhos e necessidades na forma de, no imediato, se apresentarem publicamente projectos detalhados do futuro aeroporto da Ota e renegociação para o traçado do TGV com Espanha.
 
Este manusear da macroeconomia portuguesa, jogando-a com o mundo empresarial, interligando macro/micro como recomenda a economia do século XXI, vai surpreender. Tudo indica que se pode manter próximo do limite a Dívida Pública; aumentar por forma notória o Produto Interno Bruto; melhorar a Taxa de Desemprego; e, julga-se, equilibrar o Saldo Orçamental, nesta área beneficiando de se ter começado a exigir, e fiscalizar, a passagem de factura/recibo por tudo e por todos e o pagamento regulamentar de impostos. A visão optimista desta posição, que valoriza a possibilidade das grandes obras públicas promoverem desenvolvimento (aumento do PIB e do Emprego) e melhoria do Défice, fundamenta-se na certeza do interesse por Portugal de empresas privadas dos países do G-8 e dos emergentes, G-5 (África do Sul, Brasil, China, Índia e México).
 
Neste pequeno comentário lembra-se as potencialidades do nosso país na indústria turística conjugadas com a ligação privilegiada com países em desenvolvimento, nomeadamente os asiáticos, China, Índia e Indonésia; com africanos (PALOP) cuja ajuda concreta e significativa se acordou este ano no Fórum Económico Mundial e com o Brasil. Estas boas relações, e potenciais preferências, permitem prever para o Novo Aeroporto de Lisboa, em 2020, passageiros da ordem de 20 milhões/ano, só por si, também, justificadores dos novos comboios de alta velocidade.
 
 
*      Sócio Efectivo da Revista Militar. Director-Gerente do Executivo da Direcção.
 
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2007-10-26
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by CMG Armando Dias Correia