Nº 2535 - Abril de 2013
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
Crónicas Bibliográficas

Memórias Paroquiais (1758)

João Cosme e José Varandas

 

 

 

 

João Cosme e José Varandas, professores e investigadores do Departamento de História da Universidade de Lisboa, já autores de uma extensa e notável bibliografia vêm, desta vez, brindar os portugueses com a edição de uma obra fundamental para o conhecimento do Portugal de meados do século XVIII.

Em boa hora o fizeram, porque tratando-se da organização e do tratamento criterioso de um inquérito que foi ordenado às paróquias portuguesas em 1758, é de interesse para todas as localidades de Portugal e para todos os interessados pela História Pátria.

De que tratam, então, as Memórias Paroquiais?

Como dizem os autores, pode afirmar-se que elas são uma consequência do terramoto de 1755. O cataclismo deixou marcas por todo o país e tornava-se necessário conhecer a nova realidade. Objetivo fundamental para um regime, como o liderado pelo Marquês de Pombal, que pretendia ser “esclarecido” e conhecer o “Estado do Reino”, para a tomada das decisões mais convenientes, volvidos três anos sobre a ocorrência do violento sismo.

Ao Padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa, coube organizar as memórias que os párocos do Reino enviaram, por ordem superior, à Secretaria de Estado, com as escrupulosas e circunstanciadas descrições que lhe foram solicitadas. Estas descrições acabaram por ser ordenadas e encadernadas em 44 volumes de fólio.

No questionário que foi enviado às paróquias, encontramos um variado leque de interrogações, abrangendo todas as temáticas. Inquiria-se sobre todos os fatores geográficos, económicos e administrativos da circunscrição paroquial.

Onde ficava localizada, a que bispado pertencia, tinha donatário, estava situada em campina, vale ou monte, qual o orago?

Tinha hospital, convento ou misericórdia, quais as ermidas existentes, tinha juiz, feira, correio, fontes, lagoa, porto de mar ou muralhas?

Tinha homens insignes por virtudes, letras ou armas? Que lugares ou aldeias compreendia e quantos vizinhos tinham?

A quantas léguas estava, da cidade capital do bispado e da cidade de Lisboa?

Quais os estragos causados pelo terramoto de 1755?

Quais as características dos rios existentes, onde nascem, são caudalosos todo o ano, são navegáveis, têm moinhos e lagares de azeite, têm peixes, o que se cultiva nas suas margens, morrem no mar ou noutro rio?

O que nos espanta é que, nos nossos dias, os variados censos do INE não vão muito além das questões levantadas nas memórias de 1758. Embora as respostas elaboradas pelos milhares de párocos nem sempre sejam, como é natural, harmónicas e equilibradas, dependendo do interesse, cultura e dedicação de cada um, o que é certo é que ninguém pode ficar indiferente a este levantamento minucioso sobre as nossas comunidades paroquiais de há duzentos e cinquenta e cinco anos atrás.

Este acervo documental já consultado inúmeras vezes, por investigadores interessados no passado das suas paróquias ou das suas regiões, originou imensas publicações de cariz local. Mas, pela primeira vez, surge esta obra a tratar o assunto de uma forma global, sistemática e por ordem alfabética, o que vai poupar muitas deslocações e pesquisas aos investigadores do século XVIII.

É que, é bom dizer-se, trata-se do maior levantamento histórico, administrativo, religioso, económico e geográfico feito em Portugal, até ao século XIX. Constituído pela resposta a sessenta perguntas específicas, permitia radiografar o país de então e dar uma ideia concreta daquilo a que hoje se chamaria “o estado da nação”.

Diria que ninguém pode ficar indiferente a esta publicação que começou com quatro volumes, cobrindo apenas a letra A e as paróquias de Abação a Arnóia, a que se seguirão, certamente, as restantes dezenas de brochuras que rematarão o trabalho do Padre Luís Cardoso, da Congregação do Oratório de Lisboa.

Criteriosamente apresentada, em quatro volumes de cerca de quinhentas páginas cada, dotados de índices analíticos, onomásticos e geográficos, estas publicações constituem um valioso contributo para todos os investigadores do século XVIII português.

A Revista Militar agradece a oferta dos primeiros quatro livros das MEMÓRIAS PAROQUIAIS (1758) e felicita os historiadores Prof. Doutores João Cosme e José Varandas, pela sua iniciativa.

 

Major-General Manuel de Campos Almeida

Vogal da Direcção da Revista Militar

Major-general
Manuel António Lourenço de Campos Almeida
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