Nº 2541 - Outubro de 2013
Pessoa coletiva com estatuto de utilidade pública
IN MEMORIAM - Tenente-general Guilherme de Sousa Belchior Vieira (1929-2013)

IN MEMORIAM

 

 

 

Tenente-general Guilherme de Sousa Belchior Vieira

(1929-2013)

 

No passado dia 19 de Setembro, deixou o nosso convívio, após doença prolongada, o Tenente-general Guilherme de Sousa Belchior Vieira, sócio efetivo da Revista Militar e um brilhante Oficial do Exército da sua geração. Tinha 84 anos de idade, dos quais 46 em serviço efetivo no Exército.

Iniciou a sua carreira militar em Novembro de 1948, como Cadete-aluno da Escola do Exército, tendo concluído o Curso Geral de Artilharia como primeiro classificado do seu Curso. Promovido a Alferes de Artilharia, em Agosto de 1952, foi colocado na Escola Prática da Arma, onde prestou serviço durante quase nove anos, como Oficial subalterno e Capitão.

O Exército Português, ao tempo, desenvolvia um grande esforço de modernização e de adaptação a novas doutrinas de emprego, como consequência das Forças Armadas de Portugal passarem a participar na estrutura militar integrada da Organização da Aliança Atlântica (OTAN). No contexto dessa adaptação e da importância que a aviação ligeira do Exército passava a ter para o emprego da força terrestre, com Secções de Observação Aérea nos Grupos de Artilharia de Campanha e Grupos de Cavalaria, o Alferes Belchior Vieira, com outro Oficial do seu Curso e um Oficial de Cavalaria, frequenta nos EUA o Curso “Army Aviation Tactics” e é brevetado como “Liaison Pilot”.

No tempo em que prestou serviço na Escola Prática de Artilharia, Belchior Vieira, além das qualidades militares de caráter, personalidade e espírito de servir, revelou qualidades de inteligência criadora, estudo e investigação, método e capacidade de trabalho que muito contribuíram para a consolidação dos conhecimentos que as novas doutrinas exigiam. Com grande poder de argumentação e comunicação, revelou-se um instrutor de elevada qualidade que muito influenciou algumas gerações de Oficiais de Artilharia do Quadro Permanente e de Complemento, que na Escola completavam ou iniciavam a sua formação.

O reconhecimento das suas elevadas qualidades de instrutor levam a que seja nomeado para frequência do Curso de Métodos de Instrução, no Reino Unido, em 1958, e, posteriormente, a enquadrar uma equipa de oficiais e sargentos que no âmbito da Direção Geral de Instrução do Estado-Maior do Exército passa a ministrar Estágios de Métodos de Instrução, para oficiais, na Escola Prática de Infantaria e que vai trazer grande melhoria à instrução no Exército. Criado o Curso de Observadores Aéreos no Exército, o Capitão Belchior Vieira é um dos seus impulsionadores e dos primeiros instrutores.

Ainda no posto de Capitão, em 1960, oferece-se para uma comissão de serviço na Região Militar de Angola, sendo colocado na guarnição de Nova Lisboa, no Grupo de Artilharia e na Escola de Aplicação Militar. Com o início do conflito armado, em 1961, é colocado na 3ª Repartição do Quartel-General da Região Militar, passando a desempenhar missões de observação aérea nas áreas onde decorriam operações militares. Publica no diário Província de Angola alguns artigos para informar a opinião pública sobre o novo tipo de conflito que se desenrolava na Província.

Durante esta primeira fase da carreira militar do Capitão Belchior Vieira, o seu registo disciplinar tem averbado louvores dos seus Comandantes, do Diretor da Arma de Artilharia e Diretor Geral da Instrução do Exército que evidenciam os seus dotes de caráter e personalidade e qualidades excecionais de inteligência, capacidade de trabalho e de organização, de comunicação e de instrutor. É condecorado com a Medalha de Mérito Militar.

Em 1962 vai frequentar o Curso de Promoção a Oficial Superior, no IAEM, com vista à frequência do Curso de Estado-Maior que vai concluir em 1965, já no posto de Major, com a classificação de Distinto. Colocado na 2ª Repartição do Estado-Maior do Exército (EME), passa a integrar o Corpo de Estado-Maior, em 1966, iniciando uma nova fase da sua vida militar, agora voltada para o ensino superior militar e as informações militares. Acumulando com a 2ª Repartição, passa a desempenhar funções de professor dos Cursos de Estado-Maior.

Em 1967, é nomeado, por designação, para desempenhar uma comissão de serviço no Comando Territorial Independente da Guiné onde passou a desempenhar as funções de Chefe da 2ª Repartição do Quartel General transitando para o Gabinete Militar do Comando-Chefe da Província aquando da sua ativação, onde presta serviço na área das informações, até 1969. Colocado de novo no EME, acumula funções com as de professor efetivo dos Cursos de Estado-Maior e, em 1970, frequenta o Curso de Contrainformação no Reino Unido.

Promovido a Tenente-coronel em 1971, nesse ano, é nomeado para frequentar o Curso Superior de Guerra, na Escola Superior de Guerra de França, que concluiu em 1973. Regressado a Portugal, continua a desempenhar funções no EME, no IAEM, como Professor efetivo dos Cursos de Estado-Maior e na Escola de Estudos Superiores da Força Aérea.

Nestes postos e nas funções desempenhadas, as qualidades de Belchior Vieira são reconhecidas em louvores do General Vice-Chefe do Estado-Maior do Exército, Diretor do IAEM, Comandante do CTIG, Comando-chefe das Forças Armadas da Guiné e Ministro da Defesa Nacional, evidenciando os dotes de caráter e profissionalismo militar, inteligência, capacidade de estudo e análise, poder de comunicação e espirito de servir. É condecorado com a Medalha Militar de Serviços Distintos, Prata, com Palma.

Em 1974, o Tenente-coronel Belchior Vieira é chamado a colaborar com a Junta de Salvação Nacional, desempenhando por curto tempo as funções de Delegado da Junta no Ministério do Ultramar e depois na organização das informações militares no âmbito da 2ª Divisão do Estado-Maior General das Forças Armadas (EMGFA), entretanto estruturado, onde é promovido ao posto de Coronel, em Setembro de 1974. Neste posto desempenha funções de 2º Comandante da Região Militar Centro, Chefe da Repartição de Instrução do EME e Comandante do Centro de Instrução de Artilharia Antiaérea e Costa de Cascais.

Promovido a Brigadeiro em Dezembro de 1977, e a General, em Agosto de 1980, Belchior Vieira vai percorrer nova fase da sua vida militar, em funções de direção superior e de consolidação e transmissão de conceitos, ainda na área do ensino superior militar, mas também na área da segurança e defesa nacional, impulsionadas pelas funções que desempenhou. Como Brigadeiro desempenhou as funções de 2º Comandante da Academia Militar, onde dinamizou o estudo e a investigação sobre o comando e liderança, as funções de Chefe do Departamento de Estudos e Ensino do Instituto da Defesa Nacional, quando retomava os Cursos de Defesa Nacional, em 1978, e que devem à sua ação a organização, procura de áreas de estudo e dinâmica que vão assumir na sociedade portuguesa, e as funções de Diretor do Departamento do Exército, propondo a criação da Escola de Sargentos do Exército, nas Caldas da Rainha, e que substitui a Escola de Formação de Sargentos que funcionava em Lamego.

Como General assume as funções de Diretor do Instituto de Altos Estudos Militares, de Adjunto Coordenador no EMGFA, de Diretor do Serviço Nacional de Proteção Civil (em diligência no Ministério da Administração Interna) e de Diretor do Serviço Histórico Militar do Exército, quando passa à situação de Reserva, por limite de idade, em 1991. É desta fase da sua vida que o General Belchior Vieira nos deixa escritos e reflexões sobre a Defesa Nacional, a Instituição Militar, o Exército e o seu ensino superior e instrução que são marcos sobre a evolução do pensamento militar na viragem do século XX para o século XXI. Escritos dispersos por várias publicações, alguns dos quais foram distinguidos com prémios.

Sócio efetivo da Revista Militar, escreveu nesta publicação regularmente, desde 1993 (O ensino da matemática nas Aulas de Artilharia e Academias Mitares: do século XVII ao século XIX) até 2002 (Modelos de Ensino Universitário Militar). Escritos que um dia, por novas gerações, deverão ser compilados.

Como Oficial General foi louvado pelo Comandante da Academia Militar, General CEME, General CEMGFA e Ministro da Administração Interna, condecorado com a Medalha de Serviços Distintos (Ouro) e agraciado com a Ordem Militar de Avis. Era também condecorado com a Medalha D. Afonso Henriques (1ª Classe), as Medalhas Comemorativas das Campanhas das Forças Armadas Portuguesas, com as Legendas Angola e Guiné e a Grã Cruz do Mérito Militar de Espanha.

Repetindo uma frase conhecida, diremos que “os generais não morrem… vão desaparecendo”. Os camaradas de armas e amigos que acompanharam os últimos tempos do General Belchior Vieira sentiam que ele ia, pouco a pouco, desistindo de viver. Como espírito inteligente, dedicado ao seu Exército e à sua Pátria, queixava-se dos tempos que se vivem. Sentia que as ofensas continuadas e sucessivas à Instituição Militar e aos seus valores excediam tudo visto até agora. Desistiu e deixou em nós a mágoa pela perda de um Camarada e Amigo.

A Revista Militar vai sentir a falta da sua presença. Mas quer apresentar à Família enlutada, sua Esposa, Filhos e netos, sentidas condolências.

 

General Gabriel do Espírito Santo

General
Gabriel Augusto do Espírito Santo
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2014-02-23
793-796
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General

Gabriel Augusto do Espírito Santo

Nasceu em Bragança em 8 de Outubro de 1935.

É General do Exército, na situação de Reforma desde o ano 2000, depois de ter servido nas Forças Armadas Portuguesas durante 49 anos.

Além de Tirocínios e Estágios na sua Arma de origem possui os Cursos da Escola do Exército (Artilharia), Curso Complementar de Estado-Maior e Curso Superior de Comando e Direcção (Instituto de Altos Estudos Militares), Curso de Comando e Estado-Maior (Brasil) e o Curso do Colégio de Defesa Nato (Roma).

Falecido em 17 de outubro de 2014.

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by COM Armando Dias Correia